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9.7.05

(...) Quando eu tinha dez anos, mais ou menos, nossa lavadeira era uma africana muito alta, muito negra, de lenço xadrez na carapinha. Desde que veio para nossa casa, sempre demonstrou particular interesse por mim. Depois que tirava as roupas do cesto, costumava pôr-me dentro dele e balançar-me, enquanto eu me agarrava às alças e gritava de alegria e medo. Eu era pequeno para minha idade, e pálido, com uma encantadora boquinha entreaberta – disso tenho certeza.
Um dia, estando eu de pé à porta vendo-a ir embora, ela virou-se e me chamou, acenando com a cabeça e sorrindo de um modo misterioso, estranho. Não hesitei em segui-la. Ela me levou para dentro de um pequeno galpão no fim da travessa, tomou-me nos braços e começou a me beijar. Ah, aqueles beijos! Sobretudo aqueles dentro das orelhas, que quase me ensurdeciam!
Quando me pôs de novo no chão, tirou do bolso um bolinho frito coberto de açúcar, e eu cambaleei pela travessa de volta para casa.
Como essa cerimônia se repetia todas as semanas, não é de admirar que a recorde de modo tão vívido. Ademais, desde aquela primeira tarde minha infância foi, para dize-lo graciosamente, “beijada até o fim”. Tornei-me muito lânguido, muito dado a carícias e de uma voracidade sem limites. E tão desenvolvido, tão aguçado, que parecia compreender todo mundo e ser capaz de fazer com todos o que quisesse. (...)(...) Se precisar de dinheiro vivo, haverá sempre uma lavadeira africana e um galpão, e sou muito franco e bon enfant para fazer jus a bastante açúcar no bolinho frito de depois... (...)


parte do conto 'Je ne parle pas français', Katherine Mansfield, 1920


sick boy 00:43 -

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