só para iniciados. crises e cricris. neologismos e estrangeirismos. veneninho de canto de boca. xujo, malvado, bronco e de grande coração! escrevam também, email ali embaixo, à esquerda. enjoy!
Germano tinha 22 anos. Germaninho era como o chamavam. Morava no Bixiga com os pais e três cachorros. Acabara de terminar a faculdade, curso de Letras, e gostava mais do que nunca de morar em São Paulo, com seus cheiros estranhos e ares pesados (esses ares davam uma sensação de proteção a Germaninho, como se fossem uma redoma; estava no centro do mundo).
O episódio ocorreu num sábado, dia de garoa fina e ar abafado. O tio de Germaninho, seu Adolfo, trabalhava como marceneiro nos fundos de casa e, nesse momento, conversava com seu irmão Jonas; ambos tinham pouco mais de cinqüenta anos.
- Então me diga Jonas, conte-me tua fiel impressão: acreditas que Germaninho realmente saia com mulheres, empreste o apartamento de um amigo para um encontrozinho como nós fazíamos, como os jovens fazem?
- Não sei Adolfo, não pensei sobre isso. Na verdade essa desconfiança nunca havia passado pela minha cabeça. E que te importa isso, homem!!! (Pausa) P-p-por que, Adolfo? (Envergonhado, mas curioso) Por que me perguntas isso?
- Uma boneca!! Uma boneca Jonão!! Isso é o que o rapaz é!! Não percebes? Ele já não esconde de ninguém!! Concordo que não se "assumiu" frente à mãe, mas os trejeitos entregam!! Safado!!
- Aaahh homem, pare com isso!! Não vou pensar nisso! Coitada da Célia, vai entrar em prantos se descobrir que o filho é... é... bicha!!
- Tem que levar uns tratos! Surra até!
- Aaaai, te manca Adolfão! Surra já é demais. Mas eu não quero bicha na família não!! Bicha não!!!
- Vou conversar com o moleque. Ter um papo de homem pra homem. Quero só ver!! Sobrinho meu, bicha, não!!
Continuaram todos, desde a mãe, Célia, aos tios e tias, imaginando as terríveis influências que Germaninho sofrera vivendo com aqueles amigos suspeitos, "não-cristãos", não se conhece o pai e a mãe de nenhum!!! Crescer dentro de uma cápsula protetora negativíssima e tentar criar, sem sucesso, os filhos da mesma maneira, é uma etupidez absurda na própria vida. Germaninho está se livrando dessa cápsula, saindo desse campo de força burro. Burro!! Infelizes!!!